Um item importante que os autores devem atentar na submissão de um trabalho para publicação é a definição dos descritores ou palavras-chave. Tais termos são de grande valor para a indexação, pois muitos pesquisadores da área de saúde, apenas para delimitar um campo da ciência, os utilizam na busca de informações para pesquisar sobre doenças, técnicas cirúrgicas ou mesmo escrever um trabalho. Caso eles não estejam de acordo com a nomenclatura das bases de dados, o artigo corre o risco de não ser encontrado e, portanto, nem citado. Assim, a informação fica perdida.
Isso traz um prejuízo grande, visto que quanto maior o número de citações, mais valorizada é a revista e, por conseqüência, aqueles que têm seus artigos nas suas páginas. É o que chamamos de "fator de impacto", que á a relação entre o número de vezes que os artigos de uma revista são citados e o número total de artigos publicados a cada ano.
Assim, quanto maior é o fator de impacto, maior é a importância da revista junto aos seus pares, às agências de fomento à pesquisa e aos órgãos governamentais como a CAPES. O autor também perde, pois um maior número de citações agrega reconhecimento do valor da pesquisa relatada e de seus resultados.
Este artigo tem justamente o objetivo de chamar a atenção dos cirurgiões cardiovasculares que enviam seus trabalhos não apenas para a RBCCV, mas também para publicações do Exterior, para importância dos descritores e auxiliá-los a fazer a busca corretamente. Todo o esforço que tem sido feito para que a RBCCV se aprimore constantemente, mantendo um padrão compatível com as melhores revistas do gênero, passa pelo conteúdo e por uma estrita observância de suas normas.
As publicações científicas mais importantes costumam especificar, nas normas aos autores, a necessidade da indicação de descritores (ou palavras-chave) e em que base de dados devem ser consultados.
A Revista Brasileira de Cirurgia Cardiovascular (RBCCV), por exemplo, determina nas Normas para Publicação que o manuscrito deve ter de três a cinco descritores, assim como sua versão em inglês (descriptors). A consulta deve ser feita nos seguintes endereços eletrônicos: http://decs.bvs.br/, com termos em português, espanhol ou inglês, ou www.nlm.nih.gov/mesh, para termos apenas em inglês.
O DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) foi criado, em 1986, pela Bireme a partir do MeSH (Medical Subject Headings) - que, por sua vez, surgiu em 1963 e é produzido pela U.S. National Library of Medicine [1].
O site do DeCS destaca a importância do vocabulário estruturado: "Vocabulários estruturados são necessários para descrever, organizar e prover acesso à informação.
O uso de um vocabulário estruturado permite ao pesquisador recuperar a informação com o termo exato utilizado para descrever o conteúdo daquele documento científico. Os vocabulários estruturados funcionam também como mapas que guiam os usuários até a informação. Com a expansão da Internet, e o número de potenciais pontos de acesso à informação crescendo exponencialmente, os vocabulários podem ser úteis provendo termos consistentes que permitam ao usuário selecionar a informação que necessita a partir de uma vasta quantidade de dados" [2].
Descritor x palavra-chave
É importante ressaltar a diferença entre palavra-chave e descritor. A primeira não obedece a nenhuma estrutura, é aleatória e retirada de textos de linguagem livre. Para uma palavra-chave tornar-se um descritor ela tem que passar por um rígido controle de sinônimos, significado e importância na árvore de um determinado assunto.
Já os descritores são organizados em estruturas hierárquicas, facilitando a pesquisa e a posterior recuperação do artigo. Por isso, é de fundamental importância que os autores consultem o DeCS e/ou o MeSH e coloquem os termos que melhor reflitam o fulcro do artigo.
Mesmo que um autor escreva uma pesquisa sobre determinado tema a respeito do qual haja trabalhos de sua própria autoria já publicados anteriormente, é necessário fazer nova consulta, pois os "bancos de dados" são atualizados periodicamente. Só para se ter uma idéia, na sua versão para 2004 o DeCS teve o acréscimo de 664 novos termos, alteração de 109 e exclusão de 20. Além disso, foram acrescentados 3.266 sinônimos, sendo 484 em descritores MeSH e 710 em qualificadores.
No total, são 159.958 descritores com sinônimos e definições nos três idiomas [2]. No caso do MeSH, são 22.568 descritores, usados para indexar cerca de 4.600 publicações biomédicas da base do MedLine/PubMed [3].
Com essa grande variedade de descritores à disposição, o autor tem plenas condições de escolher os termos mais adequados para que seu trabalho seja indexado de maneira que possa ser localizado sem dificuldades. Caso haja dúvida sobre quais descritores usar, a ajuda de uma bibliotecária pode ser extremamente útil.
Busca
Para fazer a busca no DeCS, o autor deve acessar o site (http://decs.bvs.br/), depois clicar em "Consulta ao DeCS". Em seguida, vai aparecer uma tela, na qual há um quadro com o título "Consulta por palavra" com espaço em branco, onde se digita o termo a ser pesquisado. Quando o termo pesquisado for em português, deve-se escolher "Português" no "Idioma dos Descritores". Quando for em inglês, a opção no idioma também deve ser alterada. No item "Consulta por Índice", o ideal é escolher "Alfabético". Ao digitar a palavra, caso ela esteja indexada, irá aparecer o descritor em português, espanhol e inglês, além dos qualificadores.
No caso do MeSH (www.nlm.nih.gov.mesh), clica-se "Online searching of MeSH vocabulary". Em seguida, coloque o termo (em inglês) no espaço em branco abaixo do item "Enter term or the beginning of any root fragments". Na mesma página, no item Search for these record types, escolha "All of Above". Clique em "Find Exact Term" e vai aparecer o descriptor. Os qualificadores devem ser procurados no item "Allowable Qualifiers", no qual aparecem apenas as letras de A a Z.
Riscos
Infelizmente, a prática de fazer a pesquisa nas bases de dados disponíveis ainda não atingiu o patamar desejado. Muitos autores preferem consultar outros artigos e, às vezes, nem isso. O resultado é que caso os revisores (peer-reviewers) ou editores não façam uma checagem rigorosa, há o risco de utilizar termos equivocados com as conseqüências citadas acima.
Trabalho publicado em 2003 por OLIVEIRA et al. avaliou o uso do DeCS em dois periódicos nacionais entre 1995 e 2000, na área de angiologia e cirurgia vascular, e mostrou que a maioria dos termos empregados (56,3%) não estava de acordo com a listagem do DeCS 2001 e do MeSH 1994. Os autores chegaram à conclusão de que novos termos devem ser acrescentados ao DeCS para acompanhar o desenvolvimento da especialidade e que as Sociedades Médicas devem incentivar a busca dos termos no DeCS, além de haver um intercâmbio entre a BIREME e estas sociedades e cursos de pós-graduação na área [4].
O mesmo problema deve ocorrer com as demais áreas. Talvez ainda falte maior conscientização por parte das sociedades responsáveis pela publicação das revistas científicas e uma despreocupação dos autores.
Esta conscientização somente virá por meio de um trabalho paciente, junto aos autores, dos revisores e editores das revistas, para esclarecer a necessidade e a importância de se buscar sempre o rigor científico, que deve começar com a definição da pesquisa e apenas terminar com a observância de todas as normas adotadas pelo órgão no qual será publicada.
Ao fazerem disso um hábito, os autores e as publicações só terão a ganhar.
O papel dos descritores na busca da melhor evidência científica disponível
A busca pela informação científica disponível na literatura pode se tornar improdutiva ou confusa sem uma compreensão básica de como o conhecimento é organizado ou indexado [5]. Para a tarefa de indexação nas bases de dados, há equipes especializadas formadas por bibliotecários, profissionais da área da saúde, incluindo médicos, que lêem cada artigo e assinalam, em cada um deles, os descritores mais específicos e apropriados.
Na definição do tema, a especificidade do assunto e a escolha correta dos descritores são decisivas para uma adequada busca da literatura [6]. Desta forma, evita-se uma quantidade excessiva de artigos que não interessam.
A aplicação destes descritores não se resume apenas na busca de artigos que possam embasar a redação de artigos científicos ou possam ser usados na sustentação de opiniões. Muito pelo contrário, eles têm uma aplicação muito mais ampla e devem ser incorporados à prática clínica diária. O processo de encontrar resposta apropriada a uma dúvida surgida durante o atendimento ao paciente depende de como estruturamos a pergunta. Alguns grupos têm adotado a metodologia proposta pela Universidade de Oxford [7], onde toda a pergunta é estruturada com base nos descritores. Esta metodologia pode ser sintetizada pelo acrônimo P.I.C.O., onde o P corresponde ao paciente ou população, I de intervenção, C de comparação ou controle e O de "outcome" ou desfecho clínico. A partir da pergunta estruturada, são identificados os descritores que irão constituir a base de busca da evidência nas diversas bases de dados, descrevendo cada um dos quatro aspectos em questão [8]. Sem uma questão bem estruturada e com a escolha de descritores inadequados, a pesquisa nas bases de dados costuma resultar em ausência de informação ou em quantidade muito grande de informação, muitas vezes não relacionada diretamente ao interesse [9].
AGRADECIMENTOS
A Maria Elisa Rangel Braga, Diretora da Biblioteca Central da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) - Escola Paulista de Medicina, pelo apoio editorial.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Pellizzon RF. Pesquisa na área de saúde. 1. Base de Dados DeCS (Descritores em Ciências da Saúde). Acta Cir Bras. 2004;19(2):153-63.
2. DeCS. Descritores em Ciências da Saúde. São Paulo:BIREME/OPAS;2004. Disponível em http://decs.bvs.br/.
3. MeSH. Medical Subject Headings. Bethesda:US National Library of Medicine. 2005. Disponível em www.nlm.nih.gov/mesh.
4. Oliveira EFB, Oliveira HB, Azevedo JLMC, Fagundes DJ. Avaliação de descritores na angiologia e cirurgia vascular em artigos publicados em dois periódicos nacionais. Acta Cir Bras. 2003;18(1):62-72.
5. Gore G. Searching the medical literature. Inj Prev. 2003;9(2):103-4.
6. Monteiro R, Jatene FB, Bernardo WM, Oliveira AS. Os caminhos na busca da informação científica. Rev Bras Cir Cardiovasc. 2003;18(2):IX-XII.
7. Richardson WS. Ask, and ye shall retrive. Evidence-Based medicine.1998;3:100-1.
8. Bernardo WM, Nobre MRC, Jatene FB. A prática clínica baseada em evidências. Parte II: buscando as evidências em fontes de informação. Rev Assoc Med Bras. 2004;50(1):104-8.
9. Nobre MRC, Bernardo Wm, Jatene FB. A prática clínica baseada em evidências. Parte I: questões clínicas bem construídas. Rev Assoc Med Bras. 2003;49(4):445-9.