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ARTIGO ORIGINAL

Relação entre tempo de isquemia e performance pós-operatória no transplante cardíaco

Luís Sérgio FragomeniI; Robert S BonserII; Ulrich StempfleII; Steves W RingII; Michael P KayeII; Stuart W JamiesonII

DOI: 10.1590/S0102-76381989000200002

Texto completo disponível apenas em PDF.



AGRADECIMENTO

Agredecemos aos colegas Jorge Tadeu Reali e Flávio Korb, por terem auxiliado na revisão deste manuscrito.


Discussão

DR. NOEDIR STOLF
São Paulo, SP

Nós queremos comprimentar o Dr. Fragomeni e colaboradores, pelo trabalho e pela escolha do tema, que apresenta grande importância. A literatura sobre o assunto é controversa; ao lado de trabalhos que mostram resultados concordantes com aqueles aqui apresentados, existem outros, como os do grupo de Tucson, no Arizona, os do grupo do Dr. English, em Cambridge, e do próprio registro da Sociedade International de Transplante Cardíaco, que mostram que, à medida em que crescem os tempos de isquemia, aumenta a mortalidade e/ou aumentam as necessidades de drogas inotrópicas, liberação enzimática, ou alterações funcionais e morfológicas. A realidade brasileira, em relação à procura de órgãos, é completamente diferente, por uma série de questões logísticas. Numa avaliação de mais de 90 transplantes, apenas 7,4% eram corações doadores coletados à distância e 7,4%, locais. No Instituto do Coração da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, com 50 transplantes, as figuras se repetem; apenas 10% são de transporte à distância; 74% tinham tempo de isquemia inferior a 90 minutos, 16% tinham entre 90-120 minutos e 10% com tempo superior a 120 minutos. Coincidentemente, o único óbito por falha do enxerto foi do paciente com tempo máximo de isquemia de 4 horas. Nós procuramos avaliar a influência do tempo de isquemia no coração doador. Verificamos que a liberação de CKMB foi maior após 120 minutos, porém, nesses valores, influíram três pacientes: um com falha do enxerto e dois com parada cardíaca, de causa respiratória. O índice cardíaco não guardou relação com o tempo de isquemia. O tempo de uso inotrópico, embora maior após 120 minutos, não foi estatisticamente significativo. Finalmente, o desempenho do ventrículo direito, avaliado através da ecocardiografia, não mostou, também, relação com o tempo de isquemia. Eu perguntaria se o Dr. Fragomeni tem informações sobre o estado hemodinâmico pré-operatório e qual sua influência na evolução pós-operatória. Perguntaria, também, a que ele atribui índices cardíacos tão altos no período pós-operatório imediato. Em conclusão, nossos dados e nossa casuística limitada com tempos de isquemia menores não permitem uma opinião firme, a literatura é controversa e são necessários estudos como este, para esclarecer o assunto.

DR. CARLOS FIGUEROA
Belo Horizonte, MG

Inicialmente, gostaria de agradecer à Comissão Organizadora deste Congresso, pelo honroso convite para comentar o trabalho do Dr. Fragomeni. Como todos sabemos, o transplante de coração é, hoje, aceito como uma terapêutica extremamente eficaz no tratamento da doença cardíaca terminal. No livro recentemente editado pelo nosso mestre, Prof. Zerbini, podemos observar o drama que a equipe médica viveu pela obtenção do coração do doador. Na atualidade, ainda vivemos a mesma situação, evidentemente numa proporção maior, já que surgiram vários centros de transplante no nosso país. Quais as razões dessa dificuldade para a obtenção de doadores? 1) Falta uma nova lei definitiva no nosso país que facilite a obtenção de órgãos; 2) Apoio financeiro para o programa de transplante de coração é inexistente por parte da Previdência, tanto para as equipes médicas, como para os hospitais. É louvável que a iniciativa de profissionais e instituições privadas que desenvolvem o programa de transplante de coração no Brasil. Como desenvolver a obtenção de órgãos à distância, sem os elevados recursos necessários? 3) A crença religiosa, os costumes e a falta de conscientização do nosso povo dificultam as doações de órgãos. Finalmente, gostaria de parabenizar o Dr. Fragomeni, pela brilhante apresentação deste excelente trabalho, assim como pelos resultados que mostram, de maneira clara e indiscutível, a viabilidade de obtenção de órgãos à distância, para transplantes cardíacos.

DR. FRAGOMENI
(Encerrando)

Quero agradecer aos Drs. Noedir e Figueroa, pelos comentários, que valorizaram nosso trabalho. Quanto às perguntas feitas, posso informar o seguinte: o estado hemodinâmico dos receptores do coração transplantado e a evolução pós-operatória (100 pacientes) eram os seguintes: cinco pacientes estavam com suporte mecânico (sem óbitos); 30 encontravam-se na U.T.I., com administração de drogas inotrópicas (houve um óbito); 11 permaneciam em ambiente hospitalar (ocorreu um óbito) e 54 estavam no domicílio (três óbitos). Quanto à pergunta sobre a que atribuímos índices cardíacos tão elevados no pós-operatório imediato, a observação criteriosa dos quesitos para aceitação dos doadores tem participação importante nesses bons resultados. Tamém fazem parte desta estratégia uma proteção miocárdica adequada e um manejo clínico criterioso com os inotrópicos no pós-operatório imediato. Era o que eu tinha a dizer. Muito obrigado.

REFERÊNCIAS

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2. EMERY, R.; CORK, R. C.; LEVINSON, M. M.; RILEY, J. E.; COPELAND, J.; MCALLER, M. J.; COPELANG, J. G. - The cardiac donor: six-year experience. Ann. Thorac. Surg., 41: 356-362, 1986. [MedLine]

3. FRAGOMENI, L. S. & KAYE, M. P. - The Registry of the International Society of Heart Transplantation: Fifth Official Report - 1988. J. Heart Transpl., 7: 249-253, 1988.

4. JAMIESON, S. W. - Transplantation. In: DUDLEY, H. & CARTER, D. C. (eds.). Operative surgery, cardiac surgery: heart transplantation. St. Louis, The C. V. Mosby Company, 1986. p. 584-593.

5. THOMAS, F. T.; SZENTPERY, S. S.; MAMMANA, R. E.; WOLFGANG, T. C.; LOWER, R. R. - Long distance transportation of human hearts for transplantation. Ann. Thorac. Surg., 26: 344-350, 1978. [MedLine]

6. WATSON, D. C.; REITZ, B. A.; BAUMGARTNER, W. A.; RANEY, A. A.; OYER, P. E.; STINSON, E. B.; SHUMWAY, N. E. - Distant heart procurement for transplantation. Surgery, 86: 56-59, 1979. [MedLine]

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