Article

lock Open Access lock Peer-Reviewed

10

Views

ARTIGO ORIGINAL

Infecções do esterno pós revascularização do miocárdio: tratamento com retalhos miocutâneos e musculares

Rubens T. de BarrosI; Mauro A. de MarchiII; Fábio V Guimarães FilhoI; Wesley F. da SilveiraI; Hugo V. C JimenezIII; Antônio Penna JúniorI

DOI: 10.1590/S0102-76381989000200004

Texto completo disponível apenas em PDF.



Discussão

DR. ALTAMIRO RIBEIRO DIAS
São Paulo, SP

Inicialmente, queremos agradecer à Comissão Organizadora, pelo honroso convite para comentarmos o belo trabalho apresentado pelo Dr. Rubens de Barros e seu colaboradores. Achamos muito interessante a técnica desenvolvida e que foi empregada nos sete casos estudados. Em nossa experiência, o sucesso no manejo cirúrgico dos pacientes com infecção do esterno pós-operatória depende, basicamente, dos fatores subjacentes à infeção e à precocidade da intervenção. Essa complicação tem sido mais freqüente nos pacientes com síndrome de baixo débito, associada a insuficiência respiratória e complicações neurológicas. São aqueles doentes com intubação endotraqueal prolongada, que não conseguem livrar-se do respirador e que evoluem com complicações de múltiplos órgãos. Nesse grupo especialmente grave de pacientes, ao menor sinal de infecção do esterno, a intervenção deve ser imediata. Temos realizado remoção de fragmentos ósseos, a mais extensa, para deixar-se somente osso com boas condições de vitalidade e sem infecção. Para reconstrução, não sentimos, ainda, necessidade do implante de retalhos miocutâneos. Durante vários anos, utilizamos para a reconstução o emprego de cintas metálicas, de 5 por 12 mm, as quais eram passadas por fora do remanescente do esterno e tracionando-se para a linha média os dois cabos da cinta, fazia-se a aproximação em bloco do plano ósteo-muscular. Após adequadamente posicionada, essa cinta era fixada com um fio de aço, mantendo-se em posição. Mais recentemente, temos feito essa fixação com múltiplos fios de aço, sem problemas. Quando necessário, podemos manter o mediastino sob lavagem com soros e antibióticos. Paralelamente ao tratamento local da complicação, são tomadas as medidas gerais que o caso exigir. Discordamos do fato que a utilização da artéria mamária esquerda possa influir no favorecimento dessa complicação. De dato, dos primeiros 96 casos de utilização de dupla mamária, tivemos apenas um deiscência de esterno, a qual independeu desta dissecção. O emprego de dupla mamária tem sido rotineiro, sem haver qualquer incremento dos casos de infecção do esterno e/ou mediastino. Gostaria de perguntar se o laboratório produtor do material de sutura, supostamente contaminado, foi alertado e se o lote suspeito foi submetido a estudos para comprovar se não houve a possibilidade aventada.

DR. CÉSAR A. CONFORTI
Santos, SP

Primeiramente, gostaria de agradecer à Comissão Organizadora, em meu nome e no da Santa Casa de Misericórdia de Santos, o privilégio de comentar tão importante trabalho. Em levantamento efetuado em nosso Serviço, pudemos observar os seguintes dados: a partir de julho de 1987, foram realizadas 392 cirurgias, das quais 155 eram de revascularizaçáo do miocárdio isolada, onde tivemos cinco casos (3,2%) de deiscência de esterno tendo sido dissecada a mamária em dois dos casos. Acima de 70 anos, foram revascularizados 16 pacientes e, em apenas um, ocorreu deiscência de esterno por traumatopnéia e este paciente era o único no qual não havia sido dissecada a mamária. Concordamos com o Dr. Rubens, quanto aos fatores que predispõem à ocorrência de infecção de esterno; porém, em nosso levantamento, não encontramos correlação com o fato de haver sido dissedada a mamária, bem como com o fator etário. Tenho convicção de que, dentre os vários fatores relacionados com a deiscência de esterno, o mais importante é o fator mecânico. A abertura e o fechamento, de forma cuidadosa, do tórax tem importância capital na prevenção da complicação. Por outro lado, a pronta intervenção, uma vez constatado qualquer comprometimento com a cicatrização ou instabilidade do osso, melhora em muito os resultados, evitando-se a utilização de técnicas mais agressivas, como a apresentada. Tal abordagem deve ser efetuada sempre com o paciente sob anestesia geral, com sangue disponível para qualquer emergência e, então, após a reabertura, procede-se a amplo debridamento e reavivamento dos bordos. Fecha-se o esterno com reforço de fios de aço dispostos paralelamente aos bordos do esterno, facilitando o apoio dos fios de aço transversais. O tórax é fechado deixando-se sistema de drenagem para irrigação contínua com solução de PVPI. Tal procedimento é mantido por 10 dias, quando, então, retiram-se os drenos. Dessa maneira, temos otbido excelentes resultados porém, não podemos deixar de considerar interessante a técnica descrita para utilização, isto é, nos casos em que, quando necessário, o esterno, cartilagens e mediastino estejam muito comprometidos. Importante para a prevenção também vem a ser o controle da esterilização do material, assim como a limpeza e desinfecção da sala de cirurgia e UTI, o manuseio adequado do paciente por parte dos médicos e enfermagem, tendo-se o cuidado de lavar as mãos antes de qualquer procedimento, a antibióticoprofilaxia empregada, recomendando-se sua utilização somente por 3 dias, para se evitar resistência bacteriana. Encerrando, gostaria de formular as seguintes perguntas: na revisão da literatura que efetuamos, notamos haver duas atitudes quanto à realização do procedimento. Uma em um único tempo, deixando-se a irrigação contínua; outra, deixando-se o fechamento completo para ser realizado após 10 dias. Qual o critério adotado na escolha do procedimento? O que pensa do tratamento em um único tempo?

DR. ROBERTO GOMES DE CARVALHO
Curitiba, PR

Gostaria de cumprimentar o Dr. Barros, pelo tabalho apresentado. Não somente na literatura nacional, como internacional, a mediastinite tem uma pequena incidência. O hospital em que trabalhamos (Clínica de Fraturas e Ortopedia XV, Curiba, PR) é especializado em Ortopedia. E nós, os cirurgiões e ortopedistas, temos muito receio da infecção. Desde o início de nossa experiência, operamos 296 casos com CEC e não tivemos nenhum caso de mediastinite e nem infecção da ferida operatória. Em nossa experiência global na revascularização do miocárdio, tivemos com 113 casos. Em 80%, foi utilizada a artéria mamária, e em 10%, ambas as artérias mamárias. Desde o início do Serviço até agora, o antibiótico foi utilizado de três maneiras: Grupo I (54%), cefalotina e gentamicina por 72 horas; Grupo II (25%), apenas a cefalotina por 72 horas e Grupo III (20%) a cefelotina por apenas 24 horas. Gostaria de perguntar ao Dr. Barros qual a incidência de mediastinite em seu Serviço? Qual o tipo de antibiótico empregado e por quanto tempo? Houve algum caso de pericardite constritiva pelo uso de iodo-povidine?

DR. BARROS
(Encerrando)

Em relação às observações dos colegas que comentaram nosso trabalho, iremos, a seguir, sintetizar as respostas: em nossa casuística, de forma concordante com os dados de literatura, houve nítida relação entre utilização da artéria mamária e infecção óssea, sendo que a mesma era mais intensa do lado da dissecção da mamária. Quanto à pergunta referente ao laboratório, não comunicamos oficialmente a nossa suspeita, uma vez que as culturas dos fios foram sempre negativas. A técnica de irrigação contínua não foi eficaz, em tentativas anteriores, razão pela qual buscamos outras opções. A possibilidade de efetuar o procedimento em um único tempo é atraente e acreditamos que possa, no futuro, ser o método de escolha. A incidência de mediastinite, no nosso Serviço, gira ao redor de 1 % e utilizamos, de rotina, cefalosporina endovenosa por 72 horas, iniciada 12 horas antes do procedimento. Não tivemos nenhum caso de pericardite constrictiva. Talvez porque o período de utilização de iodobovidine tenha sido muito curto. Agradecemos à Comissão Organizadora deste Congresso e aos colegas que enriqueceram nossa apresentação com seus comentários.

REFERÊNCIAS

1. ARNOLD, P. G. & PAIROLERO, P. C. - Chest wall reconstruction: experience with 100 consecutive patients. Ann. Surg., 100: 725-731, 1984.

2. ARNOLD, P. G. & PAIROLERO, P. C. - Use of pectoralis major muscle flaps to repair defects of anterior chest wall. Plast. Reconstr. Surg., 63: 205-213, 1979. [MedLine]

3. BREYER, R. H.; MILLS, S. A.; HUDSPETH, A. S.; JOHNSTON, F. R.; CORDELL, A. R. - A prospective study of sternal wound complications. Ann. Thorac. Surg., 37: 412-416, 1984. [MedLine]

4. GROSSI, E. A.; CULLIFORD, A. T.; KRIEZER, K. H.; KLOTH, D.; PRESS, R.; BAUMANN, G.; SPENCER, F. C. - A survey of 77 major infections complications of median sternotomy: a review of 7949 consecutive operative procedures. Ann. Thorac. Surg., 40: 214-223, 1985. [MedLine]

5. JOHNSON, P.; FREDERIKSEN, J. W.; SAUNDERS, J. H.; LEWIS, V.; MICHAELIS, L. L. - Management of chronic sternal osteomyelites. Ann. Thorac. Surg., 40: 69-72, 1985. [MedLine]

6. JULIAN, O. C.; LOPEZ-BELLO, M.; DYE, W. S.; JAVID, H.; GEOVE, W. J. - The median sternal incision in intracardiac surgery with extracorporeal circulation: a general evaluation of its use in heart surgery. Surgery, 42: 753-761, 1957. [MedLine]

7. MAJURE, J. A.; ALBIN, R. E.; O'DONNELL, R. S.; ARGANESE, T. J. - Reconstruction of the infected median sternotomy wound. Ann. Thorac. Surg., 42: 9-12, 1986. [MedLine]

8. NAHAI, F.; MORALES Jr., L; BONE, D. K.; BOSTIWICK III, J. - Pectoralis major muscle turnover flaps for closure of the infected sternotomy wound with preservation of form and function. Plast. Reconstr. Surg., 70: 471-474, 1982. [MedLine]

9. OTTINO, G.; DE PAULIS, R.; PAUSIERI, S.; ROCCA, G.; TALLONE, M. V.; COMOGLIO, C.; COSTA, P.; ORZAN, F.; MOREA, M. - Major sternal wound infection after open-heart surgery: a multivariate analysis of risk factors in 2579 consecutive operative procedures. Ann. Thorac. Surg., 44: 173-179, 1987. [MedLine]

10. PAIROLERO, P. C. & ARNOLD, P. G. - Management of infected median sternotomy wounds. Ann. Thorac. Surg., 42: 1-2, 1986. [MedLine]

11. PAIROLERO, P. C. & ARNOLD, P. G. - Management of recalcitrant median sternotomy wounds. J. Thorac. Cardiovasc. Surg., 88: 357-364, 1984. [MedLine]

12. SARLLY, H. E.; LECLERC, Y.; MARTIN, R. D.; TONY, C. P.; GOLDMAN, B. S.; WEISWL, R. D.; MICKLEBORONGH, L. L.; BAIRD, R. J. - Comparison between antibiotic irrigation and mobilization of pectoral muscle flaps in treatment of deep sternal infections. J. Thorac. Cardiovasc. Surg., 90: 523-531, 1985. [MedLine]

13. SARR, M. G.; GOTT, V. L.; TOWNSEND, T. R. - Mediastinal infection after cardiac surgery. Ann. Thorac. Surg., 38: 415-423, 1984. [MedLine]

14. SERRY, C.; BLECK, P. C.; JAVID, H.; HUNTER, J. A.; GOLDIN, M. D.; DELANIA, G. A.; NAJAFI, H. - Sternal wound complications: management and results. J. Thorac. Cardiovasc. Surg., 80: 861-866, 1980.

15. SHAFIR, R.; WEISS, J.; HERMAN, O.; COHEN, N.; STERN, D.; IGRA, Y. - Faulty sternotomy and complications after median sternotomy. J. Thorac. Cardiovasc. Surg., 96: 310-313, 1988. [MedLine]

16. SHUMACKER Jr., H. B. & MANDELBAUM, I. - Continuous antibiotic irrigation in the treatment of infection. Arch. Surg., 86: 384-387, 1963. [MedLine]

17. STONEY, W. S.; ALFORD Jr., W. C.; BURRUS, G. R.; FRIST, R. A.; THOMAS Jr., C. S. - Median sternotomy dehiscence. Ann. Thorac. Surg., 26: 421-426, 1978. [MedLine]

CCBY All scientific articles published at rbccv.org.br are licensed under a Creative Commons license

Indexes

All rights reserved 2017 / © 2024 Brazilian Society of Cardiovascular Surgery DEVELOPMENT BY