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ARTIGO ORIGINAL

Anastomose mamária interna-artéria pulmonar para o tratamento paliativo das cardiopatias congênitas cianóticas

João J CarneiroI; Walter V. A VicenteI; Olair A QueirozII; João M Tannús FilhoII; José A Marin NetoI; João A Granzotti; Albert A SaderI

DOI: 10.1590/S0102-76381990000200003

Texto completo disponível apenas em PDF.



Discussão

DR. PAULO P. PAULISTA
São Paulo, SP

Nossos cumprimentos ao Dr. João Carneiro e colaboradores, pela bela apresentação e, principalmente, pela escolha do tema, reavivando, em nossa memória, uma técnica cirúrgica interessante e pouco conhecida e na qual, com sua apresentação, ele se torna o autor com a maior experiência. As vantagens que a literatura cita para o uso das mamárias na realidade são superponíveis para a subclávia na operação de Blalock-Taussig clássica, com excessão do sacrifício da circulação direta do membro superior correspondente. Influenciados pela leitura do trabalho do Dr. Carneiro, há dez dias fizemos uma anastomose mamária esquerda-artéria pulmonar esquerda em paciente com dois anos e cinco meses de idade portadora de atresia tricúspide com artéria esquerda não confluente e hipoplásica, só visível no wedge venoso e que sobrevivia às custas da operação de Blalock-Taussig à direita feita no paciente com dois meses de idade. No ato cirúrgico, a artéria pulmonar esquerda tinha menos de 4 mm de diâmetro e a mamária utilizada, 2,0 mm. A anastomose término-lateral foi feita em extensão de 5 mm na artéria pulmonar esquerda, semelhante à técnica da anastomose mamária-coronária e em posição que nos pareceu a mais adequada. Com base neste caso único, o que é muito pouco, restou-nos a impressão de que a técnica deve ser feita em pacientes que não serão imediatamente dependentes da mamária, fora, portanto, de emergências, que tenham artéria pulmonar hipoplásica e, se possível, artéria mamária calibrosa, visível ao exame contrastado prévio, ou no ato cirúrgico. Muito obrigado.

DR. CARLOS S. FIGUEROA
Belo Horizonte, MG

A anastomose sistêmico-pulmonar é, se dúvida, amplamente empregada nas cardiopatias congênitas com hipofluxo pulmonar, em pacientes nos quais não é possível a correção total. Também é verdade que a sua utilização tem diminuído devido à melhoria das condições técnicas dos nossos centros de cirurgia cardíaca pediátrica, possibilitando a correção total das cardiopatias numa idade mais precoce. A grande maioria das técnicas para a realização da anastomose sistêmico-pulmonar já foram realizadas pela nossa equipe. Hoje, ficamos com a que achamos ser mais prática, segura e menos traumática para os pacientes. O seu emprego se baseia no princípio de que, sendo uma cirurgia em geral paliativa, a sua permeabilidade não é desejada para mais do que cinco anos, época na qual é feita a correção total. Usamos com enxerto na anastomose sistêmico-pulmonar o tubo de PTEF (politetrafluoroetileno) com diâmetro de 4 mm para neanatos e 5 mm para crianças maiores. No primeiro grupo a anastomose é na aorta torácica, junto à origem da artéria subclávia, e no segundo grupo, com esta artéria. Em relação ao trabalho do Dr. João José Carneiro e seu grupo, achei muito bem redigido e apresentado, com citação de vasta literatura, inclusive o trabalho original a respeito desta técnica. Gostaria, entretanto, que o Dr. Carneiro nos respondesse: 1) foram submetidos a correção total dois pacientes: um com 10 kg de peso, boa anatomia um mês após a cirurgia paliativa, sendo que o enxerto estava pérvio; se a anastomose estava funcionando, porque realizar a correção total tão precocemente? 2) achei a mortalidade elevada, dois pacientes faleceram no grupo de sete operados, o que dá uma percentagem de 28,5%. É verdade que poderia ser evitada se fossem empregadas pinças hemostáticas mais delicadas. Para terminar, quero parabenizar o Dr. Carneiro e seu grupo, pela originalidade do trabalho no nosso meio e desejar que, em futuro Congresso, possa nos falar, com maiores dados, da utilidade do método. Obrigado.

DR. CARNEIRO
(Encerrando)

Nossos agradecimentos aos Drs. Figueroa e Paulo Paulista, por seus comentários. Quanto à paciente de 10 kg, portadora de Fallot com boa anatomia, foi submetida a anastomose mamária interna-artéria pulmonar, devido a suas precárias condições gerais (saindo de pneumonia de repetição e apresentando crises hipoxêmicas freqüentes, apesar do tratamento clínico). Sua melhora, ao final de um mês, foi tão acentuada que, em função de suas condições sócio-econômicas e culturais, reconsideramos o caso e a submetemos a correção total, com sucesso. A mortalidade em nossa série é alta (28,5%) e julgamos estar relacionada à gravidade dos pacientes operados por técnica mais delicada. Para estes casos, seguimos preferindo anastomoses mais rápidas e de mais fácil execução, como o da técnica de Blalock-Taussig modificada. Concordamos, pois, com os critérios de indicação colocados pelo Dr. Paulo Paulista, em seus comentários. Omitimos o calibre das mamárias e pulmonares, por dispormos apenas de parte desses dados. Consideramos a anastomose mamária interna-artéria pulmonar uma boa opção a mais para as derivações sistêmico-pulmonares e não simplesmente mais uma técnica dentre as muitas já existentes. Estamos convictos de sua indicação e de bons resultados em casos especialmente selecionados. Obrigado.

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