Article

lock Open Access lock Peer-Reviewed

2

Views

ARTIGO ORIGINAL

Evolução tardia do transplante cardíaco na doença de Chagas

Alfredo I Fiorelli; Noedir A. G Stolf; Edmar A Bocchi; Pedro Seferian; Lourdes Higushi; Uip David; Tânia Strabelli; Jorge Kalil; Jorge Newman; Fábio B Jatene; Pablo M. A Pomerantzeff; Pedro Carlos P Lemos; Antonio C Pereira-Barreto; Giovanni Bellotti; Adib D Jatene

DOI: 10.1590/S0102-76381990000200007

Texto completo disponível apenas em PDF.



Discussão

DR. JOSÉ TELES DE MENDONÇA
Aracaju, SE

Gostaria de cumprimentar o grupo do InCor, em especial o Dr. Fiorelli, pela excelência da apresentação e, principalmente, por ter trazido alguns problemas importantes sobre um tema tão sério como é a doença de Chagas, em nosso país. O Prof. Zerbini, pioneiramente no mundo, fez o primeiro transplante em chagásico, em 1985, e, com seus resultados preliminares, criou uma expectativa nova e animadora para uma doença até o momento sem alternativas terapêuticas. Os resultados apresentados pelo Dr. Fiorelli são surpreendentes, e estarrecedores até, mas parecem não ser definitivos, uma vez que, em outras experiências, embora demasiadamente pequenas, os resultados conseguidos são encorajadores. O trabalho enfatiza a necessidade de uma pesquisa acurada do parasita, pois os métodos convencionais não foram capazes de diagnosticar a reagudização da doença, que ocorreu em cinco dos sete casos operados no InCor. E este é um grande ensinamento. Quanto à elevada incidência de neoplasias nesse grupo especial de doentes, acreditamos que se faz mister um estudo mais aprofundado, com análise detalhada de todos os fatores envolvidos, bem como uma ampliação numérica da série estudada, para que possamos escapar das coincidências estatísticas e ter uma idéia segura e verdadeira da questão. Fugindo um pouco do tema, mas com o compromisso de voltar no final, gostaria de passar para os colegas uma experiência nova e inédita vivida no nordeste brasileiro. Visando incrementar o programa de transplante na região e procurando minimizar um problema grave que é a escassez de doadores, o Dr. Wanderley Neto sugeriu um programa alternativo, onde a busca onerosa de órgãos à distância foi substituída pelo simples transporte do receptador para o centro onde se encontra o doador. No nosso programa já foram realizados quatro transplantes (três em Aracaju e um em Maceió). Dois (50%) com transporte do receptador (um para cada centro). Um paciente era portador de miocardiopatia dilatada e três, originalmente, portadores de miocardiopatia chagásica (Machado Guerreio +); um dos três pacientes chagásicos faleceu no pós-operatório imediato; um está no 40º dia de pós-operatório e um ultrapassou um ano de seguimento. Este paciente apresentou um xenodiagnóstico + no pós-operatório, fez uso de benzonidazol e, até o momento, não apresentou sinal de reagudização ou doença linfoproliferativa. Gostaria, mais uma vez, de parabenizar o Dr. Fiorelli.

DR. FIORELLI
(Encerrando)

Inicialmente, gostaria de agradecer os comentários do Dr. José Teles a respeito do nosso relato e aproveitar a oportunidade para cumprimentá-lo, assim como o seu grupo, pelo seu trabalho e as suas contribuições. A doença de Chagas tem sido objeto de vários estudos, tendo em vista as suas peculiaridades e o seu caráter endêmico em nosso meio. No transplante cardíaco, a imunossupressão modifica o perfil clínico da doença, fazendo com que apresente resposta clínica diferente. A reativação da doença, que inicialmente parecia ser o maior obstáculo, desde que o diagnóstico e o tratamento específico sejam feitos adequadamente, não há prejuízo à função do enxerto. No entanto, nesta série, o aparecimento de neoplasias foi o maior fator limitante na evolução tardia, como havíamos citado anteriormente, consideramos precoce uma atitude radical, no momento. Estamos de acordo com o Dr. Teles, torna-se obrigatória uma análise do esquema imunossupressor empregado, assim como da terapêutica na reativação da doença. Considerando-se a dificuldade de uma expressiva experiência clínica a curto prazo, acreditamos que um estudo cooperativo nos possa fornecer respostas para as nossas dúvidas. Gostaria, mais uma vez, de agradecer ao Dr. Teles e cumprimentá-lo pelo seu espírito sempre criativo, fornecendo importantes contribuições à cirurgia cardíaca.

REFERÊNCIAS

1. AMATO NETO, V.; MOREIRA, A. A. B.; CAMPO, R.; DUARTE, M. I. S.; PINTO, P. L. S.; SANT'ANA, E. J. - Observação experimental e preliminar sobre a eventual influencia da ciclosporina na infecção crônica de camundondos pelo Trypanosoma cruzi. Rev. Hosp. Clin. Fac. Med. São Paulo, 41: 219-221, 1986. [MedLine]

2. BUEDING, E.; HAWKINS, J.; CHA, Y. N. - Antischistosomal effects of cyclosporin A. Agents Actions, 11: 380-383, 1981. [MedLine]

3. KAHAN, B. D.; RIED, M.; NEWBURGER, J. - Pharmacokinetic of cyclosporine in human renal transplantation. Transplant. Proc., 15: 446-453, 1983.

4. KIERSZENBAUM, F.; GOTTLIEB, C. A.; BUDZKO, D. B. - Exacerbation of Trypanosoma cruzi infection in mice treated with the immunoregulatory agent cyclosporin A. Tropicmed. Parasitol., 34: 4-6, 1983.

5. LANZA, R. P.; COOPER, D. K. C.; CASSIDY, M. J. D.; BARNARD, C. N. - Malignant neoplasms occuring after cardiac transplantation. JAMA, 249: 1746-1748, 1983. [MedLine]

6. McCABE, R. E.; REMINGTON, J. S.; ARAUJO, F. G. - In vivo and in vitro effects of cyclosporin A on Trypanosoma cruzi. Am. J. Trop. Med. Hyg., 34: 861-865, 1985. [MedLine]

7. NICKELL, S. P.; SCHEIBEL, L. C. D.; COLE, G. A. - Inhibition by cyclosporin A of redent malaria in vivo and hyman malaria in vitro. Infect. Immunol., 37: 1093-1100, 1982.

8. PENN, I. - Cancer is a complication of severe immunosupression. Surg. Gynecol. Obstet., 162: 603-610, 1986. [MedLine]

9. PENN, I. - Tumor incidence in human allograft recipients. Transplant. Proc., 9- 1047-1051, 1979.

10. SHEIL, A. G. - Cancer after transplantation. World J. Surg., 10: 389-396, 1986. [MedLine]

11. STARZEL, T. E.; PORTER, K. A.; IWATSUKI, S.; ROSENTHAL, J. T.; SHAW Jr., B. W.; ATCHISON, R. W.; NALESNIK, M. A.; HO, M.; GRIFFITH, B. P.; HAKALA, T. R.; HARDESTY, R. L; JAFFE, R.; BAHNSON, H. T. - Reversibility of lymphomas and lymphoproliferative lesions developing under cyclosporin steroid therapy. Lancet, 1: 583-589, 1984.

CCBY All scientific articles published at rbccv.org.br are licensed under a Creative Commons license

Indexes

All rights reserved 2017 / © 2024 Brazilian Society of Cardiovascular Surgery DEVELOPMENT BY