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ARTIGO ORIGINAL

Revascularização miocárdica em pacientes com idade igual ou superior a 70 anos

Januário M Souza; Marcos F Berlinck; Myriam G Moreira; José Renato M Martins; Maria Cássia S Moreira; Paulo A. F Oliveira; Dante F Senra; Sérgio Almeida de Oliveira

DOI: 10.1590/S0102-76381990000300002

Texto completo disponível apenas em PDF.



DISCUSSÃO

DR. JOSÉ CARLOS IGLÉZIAS
São Paulo, SP

Em período pouco superior a uma década, a operação de revascularizaçáo do miocárdio no paciente idoso evoluiu muito, não só devido aos avanços técnicos, como ao aprimoramento das equipes cirúrgicas e à melhoria na proteção miocárdica. Previamente, os pacientes com idade igual ou superior a 65 anos tinham suas operações contra-indicadas, levando-se em consideração, quase que tão somente, o fator idade. O trabalho apresentado pelo Dr. Januário e colaboradores traz uma importante contribuição ao estudo da revascularizaçáo do idoso em nosso meio, não só pela casuística (492 pacientes idosos/7003, número global de pacientes da série), como pelos resultados do seguimento tardio (10 anos) mostrando que se trata de recurso válido e que, pela análise criteriosa dos fatores de risco previamente, deve ser extendida aos portadores de coronariopatia, independentemente da idade. Pela leitura do trabalho, podemos destacar, comparativamente a outras casuísticas, que a mortalidade operatória é diferente na dependência do subgrupo estudado. Embora não haja significância estatística quanto aos subgrupos etários, a mortalidade hospitalar é diferente e crescente, quando comparamos o subgrupo dos pacientes que se submeteram a revascularizaçáo isolada com os do subgrupo que tiveram outro procedimento associado, tal como a aneurismectomia do ventrículo esquerdo, e que, por sua vez, apresentam mortalidade bem menor (14,8%) do que aqueles do subgrupo onde foram incluídos os pacientes operados na fase aguda do infarto do miocárdio (46,4%). Como contribuição, sugerimos que, nos próximos pacientes operados, sejam monitorizados alguns parâmetros com a finalidade de, através de uma análise discriminatória, estabelecer aqueles que exibem algum grau de significância estatística e possam permitir um prognóstico para a mortalidade operatória. O estudo seria ainda mais proveitoso se, por intermédio de um modelo matemático, pudesse ser realizada uma análise multivariável que permitisse identificar as associações pré-operatórias de maior risco para morbidade e mortalidade hospitalar. Baseado nestes fatos, tentar-se-ia, diante de situações específicas para cada paciente, conduzir o ato operatório no sentido de mudar a evolução natural da moléstia e diminuir a incidência de intercorrências pósoperatórias, reduzindo, com isto, a permanência hospitalar e, portanto, o custo do procedimento. Pela análise da curva atuarial, percebemos que, passado o período de risco inicial, os respectivos subgrupos mantêm uma expectativa de vida praticamente constante. Como ficou provado na análise do trabalho, os pacientes idosos apresentam mortalidade operatória maior que aqueles com idade inferior a 65 anos, assim como são acometidos por maior número de intercorrências: neurológicas, pulmonares, renais, etc; no entanto, o objetivo e os benefícios da revascularizaçáo do miocárdio também a eles devem ser extendidos, quais sejam: evitar a morte súbita, o infarto do miocárdio, aliviar a angina e, dentro do possível, prolongar a vida.

DR. SOUZA
(Encerrando)

Agradeço os comentários e as sugestões do Dr. Iglézias. Acredito que o nosso trabalho demonstrou, claramente, que os pacientes com idade superior a 70 anos apresentam um risco cirúrgico imediato (hospitalar ou 30 dias) maior que os mais jovens. Esse risco foi mais acentuado quando foram realizadas operações associadas (aneurismectomia do VE, cirurgia valvar), ou quando a operação foi durante a fase aguda do infarto miocárdico. Os pacientes operados de maneira eletiva apresentaram mortalidade baixa. Outro dado importante a ressaltar é a boa evolução a longo prazo (semelhante nos vários subgrupos), confirmando dados da literatura, que mostram evolução tardia melhor nos pacientes submetidos a revascularização miocárdica nessa faixa etária (maior que 70 anos) que nos não operados.

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