Paulo Rodrigues da Silva
DOI: 10.5935/1678-9741.20110063
O Dr. Cid Nogueira, cirurgião cardiovascular, nasceu na cidade de Araguari, Minas Gerais, em 6 de maio de 1929, filho de Achileu Nogueira e Carmem Nogueira.
Veio a falecer em Brasília, em 1º de outubro de 2011, aos 82 anos de idade, após alguns problemas de saúde no final de sua vida, quando, devido a uma miocardiopatia, teve que ter um sincronizador e um desfibrilador cardíaco automático implantados.
Diplomou-se como médico pela Faculdade Nacional de Medicina da Universidade Federal no Rio de Janeiro.
Iniciou suas atividades de cirurgião torácico e cardiovascular como Oficial Médico da Marinha, lotado no Hospital Naval Marcílio Dias, do Rio de Janeiro.
Em 1955, foi encaminhado por seu chefe no Hospital Marcílio Dias, Dr. Edídio Guertzenstein, para iniciar residência médica em Cirurgia Torácica e Cardiovascular no St. Vincent Charity Hospital, em Cleveland, Ohio, USA, no Serviço do Dr. Earl B. Kay.
O Dr. Kay já era conhecido e criador do oxigenador de discos para cirurgia cardíaca aberta, modelo Kay-Cross.
No mesmo hospital, sob a chefia do Dr. Earl B. Kay, o Dr. Cid Nogueira teve também a orientação de outros famosos médicos especialistas, como os Drs. Henry A Zimmerman, cardiologista e um dos pioneiros em cateterismo cardíaco no mundo, David Mendelsohn Jr., intensivista e anestesiologista, e Córcoran, que era pesquisador em fisiologia cardiológica.
Em Cleveland, de imediato, o Dr. Cid Nogueira se destacou, tornando-se o 1º Assistente do Serviço do Dr. Kay.
Nós fomos testemunhas desse seu prestígio pessoal e técnico junto ao referido Serviço, quando, em 1960, iniciávamos o nosso treinamento como residente no serviço do Dr. Kay.
Interessante destacar que o Dr. Kay veio ao Brasil em 1956 e realizou, no Rio de Janeiro, cirurgia cardíaca aberta com circulação extracorpórea, quando teve seu primeiro contato com o Dr. Cid Nogueira.
O Presidente da República do Brasil, recém-eleito na ocasião, Dr. Juscelino Kubitschek de Oliveira, que também era médico, foi testemunha desta cirurgia, juntamente com o Professor Dr. José Hilário e o então jovem Dr. Cid Nogueira (Figura 1).
Graças à ação do nosso Presidente e de todas estas figuras, incluindo o jovem Dr. Cid Nogueira, o Dr. Earl B. Kay deixou no Brasil um sistema de bomba coração-pulmão de discos, modelo Kay-Cross.
Esta máquina passou a ser usada pelo Dr. Hugo Felipozzi, em São Paulo, iniciando-se naquela cidade a sua produção em série, para todos os cirurgiões cardíacos brasileiros.
O Dr. Cid Nogueira teve uma participação importante na cirurgia cardíaca mundial, especificamente nas cirurgias plásticas valvares cardíacas (aórtica e mitral), assim como nas trocas valvares por próteses.
Importante ressaltar o seu trabalho relativo à ressecção das válvulas aórticas dos pacientes, seguida da substituição das mesmas por cúspides individualizadas protéticas, confeccionadas com tecido plástico de Teflon, recoberto por poliuretano, para que não houvesse vazamento sanguíneo entre as malhas do material plástico.
O Dr. Cid Nogueira, juntamente com outro residente do Dr. Kay, o Dr. Akio Suzuki, japonês de origem, era um dos que manualmente confeccionavam estas próteses valvares.
Em 1958, o Dr. Cid Nogueira, em Congresso Nacional de Cardiologia, no Rio de Janeiro, no Copacabana Palace Hotel, demonstrou como eram confeccionadas e implantadas estas próteses valvares na aorta. Recordo-me, porque lá estávamos, foi uma apresentação muito útil e informativa para todos nós do Brasil.
O Dr. Cid Nogueira, após cinco anos de residência em Cleveland, teve o honroso convite para trabalhar na Holanda, com os grupos médico-cirúrgico de Amsterdan e Utrecht, ocasião em que teve oportunidade de introduzir a cirurgia cardíaca "a céu aberto" das valvas cardíacas mitral e aórtica naquele país.
Em 1966, a convite do professor de Cirurgia Dr. José Hilário, teve a oportunidade de organizar e dirigir o Serviço de Cirurgia Cardiovascular do Departamento de Cirurgia da Faculdade Federal de Medicina em Porto Alegre (UFRGS).
Ficou seis anos trabalhando em Porto Alegre. Foi quem introduziu o emprego de próteses valvares mitral e aórtica naquela cidade.
Em 1968, a convite do professor Dr. Mariano de Andrade, foi trabalhar na Faculdade de Medicina em que tinha se diplomado médico, assim como em vários outros hospitais de ensino no Rio de Janeiro.
Dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro, o mesmo foi convidado para operar em Brasília, aonde foi designado como Chefe da Cirurgia Cardiovascular do Estado Maior das Forças Armadas. O Dr. Cid Nogueira, em sua atividade como cirurgião cardíaco, treinou e preparou inúmeros cirurgiões da especialidade no Brasil, a saber, que nos perdoem as eventuais omissões: em Porto Alegre, destacamos os Drs. João Batista Pereira, Felisberto Ferreira, Nelson Pizatto, Ernesto Figueiredo, Ivo Abrahão Nesralla, Polyguara Silveira da Costa, Paulo Prates, Gilberto Venossi Barbosa e Blau Fabrício de Souza; no Rio de Janeiro, os Drs. Antonio Augusto Miana, Alexandre Brick, Eduardo Sergio Bastos e Marco Antonio Cunha, assim como o seu primo, também competente especialista, o Dr. Odilon Nogueira Barbosa, que atualmente é cirurgião cardiovascular do Instituto Nacional de Cardiologia, antigo Hospital de Cardiologia de Laranjeiras.
Devemos ressaltar que alguns dos seus assistentes, além de excelentes especialistas, chegaram à Presidência da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular (SBCCV).
No período final de sua vida, em Brasília, o Dr. Cid Nogueira foi designado e atuou como médico do Senado.
Além do já mencionado acima, o Dr. Cid Nogueira fez diversas contribuições técnico-cirúrgica importantes, a saber:
a. contribuições para o tratamento cirúrgico das complicações septais e valvares após infarto agudo do miocárdio;
b. contribuições na ressecção dos aneurismas chagásicos de ventrículo esquerdo;
c. "Próteses valvares. Aplicação clínica de válvula de Kay-Suzuki". Título de sua Tese defendida em seu Concurso de Livre Docência de Cirurgia Cardiovascular da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 1970, no qual foi aprovado. Esta tese refere-se à aplicação em 60 pacientes de próteses valvares de disco de carbono pirolítico, cujo disco cursava no ventrículo esquerdo, sem que o mesmo girasse para a posição vertical, ocupando assim o menor espaço no ventrículo esquerdo.
O Dr. Cid Nogueira foi Fundador e Membro Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular.
Em 1969, no XXV Congresso Brasileiro de Cardiologia, em Belo Horizonte, quando da realização da 1ª Assembleia Geral Ordinária do Departamento de Cirurgia Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia, o Dr. Cid Nogueira foi eleito para o Conselho Deliberativo da mesma, juntamente com os Drs. Domingos Junqueira de Moraes, Delmont Bittencourt, Luiz Carlos Bento de Souza e Ivo Nesralla.
Complementando, podemos afirmar que a cirurgia cardiovascular do Brasil como um todo lamenta profundamente o falecimento deste brilhante Cirurgião Cardiovascular brasileiro.