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EDITORIAL

Cooperação Internacional no Brasil: Children´s HeartLink

Ulisses Alexandre CrotiI; Domingo M BraileI

DOI: 10.1590/S0102-76382010000100004

Children's HeartLink (CHL) é uma organização não governamental, sem fins lucrativos, fundada em 1969 pelo Dr. Joseph Kiser, com sede em Minneapolis, Minnesota, Estados Unidos da América (http://www.childrensheartlink.org).



Um dos principais objetivos da organização é colaborar no desenvolvimento, capacitação e mobilização de pessoas e instituições para ajudar crianças com defeitos cardíacos no mundo.

Atua em parceria com hospitais reconhecidos como referência em cirurgia cardiovascular pediátrica, em países desenvolvidos para oferecer fundamentalmente educação continuada e treinamento para profissionais envolvidos no tratamento clínico e cirúrgico de crianças cardiopatas em países como Equador, Índia, Malásia, Ucrânia, Vietnã, África do Sul, China e agora no Brasil.

Há algum tempo, o Prof. Dr. Rodolfo A. Neirotti, em conversas com o Prof. Dr. Domingo Braile em congressos internacionais, demonstrou a possibilidade de incluir o Brasil entre os países a serem beneficiados pela parceria com a CHL.

Durante o 35º Congresso da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular, ocorrido em São Paulon entre os dias 18 e 20 de abril de 2008, por solicitação da CHL, o cirurgião cardiovascular pediátrico Prof. Dr. Rodolfo A. Neirotti veio ao Brasil, com a missão de identificar alguns centros de cirurgia cardiovascular pediátrica que poderiam ser visitados e avaliados para uma futura parceria.

O Prof. Dr. Neirotti é cirurgião cardiovascular de grande experiência na cirurgia cardiovascular pediátrica, mestre em administração pública pela Universidade de Harvard e voluntário da CHL. Parte da sua formação foi feita no Brasil, no início dos anos 60, com o Prof. Dr. E. J. Zerbini. Por isto, conhecia bem o país, além de manter contato com muitos colegas da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular, que na ocasião puderam indicar-lhe informalmente Serviços de Cirurgia Cardiovascular em algumas cidades do País.

Em dezembro de 2008, um grupo representando a CHL, que atualmente recebe apoio financeiro de diversas fontes, entre elas a Medtronic Foundation, esteve no Brasil visitando os locais previamente determinados.

São José do Rio Preto foi escolhida por apresentar melhores condições de evolução, uma vez que a cidade é pioneira em cirurgia cardiovascular de largo alcance no Brasil.

Participaram dessa viagem o então diretor de programas internacionais John Cushing, o coordenador Andreas Tsakitos, o cardiologista pediátrico da Stanford University School of Medicine, Dr. Paul T. Pitlick, e o Prof. Dr. Neirotti.

A visita ao Serviço de Cirurgia Cardiovascular Pediátrica de São José do Rio Preto, Hospital de Base - Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (HB - FAMERP) teve duração de dois dias. O grupo visitante falou sobre os projetos da CHL e seus objetivos, assim como observaram uma exposição sobre quem éramos, o que fazíamos e como trabalhávamos.

Ficou claro que o programa de parceria entre a CHL e um centro no Brasil dependeria de diversos fatores e teria vários estágios.

Os fatores fundamentais seriam a identificação de um local com potencial para o desenvolvimento da cardiologia e cirurgia cardiovascular pediátrica, incluindo número mínimo de 100 operações ao ano, interesse da equipe médica e da diretoria do Hospital em melhoria local, participação de informações e responsabilidades com colaboração mútua.

No caso de uma possível relação, haveria cinco estágios:

1. Reconhecimento de um local com potencial;
2. Avaliação local por um médico voluntário;
3. Programa piloto com um grupo para avaliação do local escolhido;
4. Participação local ativa com educação e treinamento, assistência técnica, suporte financeiro para tratamento de alguns pacientes, suprimentos críticos e equipamentos;
5. Colaboração contínua após um nível consistente e apropriado de atendimento.

Nossa equipe, orientada desde o início pelo Prof. Dr. Domingo Braile, apresentou-se como um Serviço de Cardiologia e Cirurgia Cardiovascular Pediátrica estruturado, sendo constituído por cirurgiões, cardiologistas pediátricos, anestesistas, perfusionistas, fisioterapeutas, enfermeiros, entre outros profissionais envolvidos no cuidado aos pacientes.

Pudemos demonstrar o envolvimento acadêmico e científico, o número crescente de operações, e o atendimento às crianças oriundas de todo o Brasil, com apoio de uma Associação dos Amigos da Criança com Câncer e Cardíaca (www.amicc.com.br) e de uma empresa de suprimento do material empregado no tratamento das crianças em nosso meio, a Braile Biomédica S/C.

Com a evidência do Hospital da Criança, em fase final de construção, apresentamos isto como uma oportunidade, única e de grande impacto, para a expansão futura em volume e qualidade no atendimento às crianças cardiopatas.

No dia 19 de maio de 2009, recebemos um e-mail da Sra. Estelle Brouwer, vice-presidente e diretora dos programas internacionais, informando que nosso centro havia sido escolhido pela CHL para cooperação no Brasil.

Iniciaram-se as conversações e, em julho de 2009, recebemos a segunda visita do Prof. Dr. Neirotti, como representante da CHL. Durante uma semana ele observou as condutas, as operações e toda a rotina do nosso trabalho, procurando fazer um diagnóstico mais profundo dos pontos positivos e negativos. Essa análise também tinha o intuito de preparar a vinda da primeira missão completa de profissionais voluntários ao nosso País.

Submetemos ao Conselho Regional de Medicina (CRM) o pedido para liberação de atividades médicas e de outros profissionais estrangeiros, a fim de legalizar a missão.

O HB - FAMERP apoiou integralmente o projeto, preparando salas para reuniões, telefones celulares para facilitar a comunicação entre as equipes, transporte, refeições e contratação de tradutores dia e noite em todas as unidades, fato que foi de grande importância para integração e permitiu a troca de informações em todos os níveis de atendimento.

Em setembro de 2009, ocorreu a primeira visita de um grupo de profissionais, oriundos da Mayo Clinic e liderados pelo Dr. Joseph A. Dearani, eminente cirurgião cardiovascular e diretor médico da CHL.

A equipe de 10 profissionais liderados pelo Dr. Dearani era constituída pela cardiologista pediátrica, Dra. Shanthi Sivanandam, a anestesista, Dra. Roxann Barnes, o perfusionista, Dave Clements, as enfermeiras, Anita Wattier, Lisa Belch, Deanna Gage e Jill Misgen, o fisioterapeuta, Ed Schneider, a técnica em cirurgia, Joan Wobig, além do Prof. Dr. Neirotti.

Os objetivos principais eram a familiarização da equipe com as nossas rotinas, pesquisas, demanda de serviços e prioridades, buscando um relacionamento profissional duradouro, participando dos diagnósticos e tratamentos dos pacientes, além de oferecer observações e recomendações com intenção de planejar o avanço tecnológico em Hospital.

Durante uma semana nossa equipe pôde ver e ser vista trabalhando pela equipe do Dr. Dearani. O que pudemos observar nessa incrível experiência foi um grupo de profissionais voluntários, com altíssima capacitação, muito interessados em discutir os casos clínicos e cirúrgicos, demonstrando as suas condutas e como poderíamos melhorar os procedimentos da nossa rotina.

O posicionamento ético incontestável da equipe do Dr. Dearani foi absolutamente formidável, chamando a nossa atenção o enorme respeito pelas pessoas que aqui trabalham e pelas nossas condutas.

Imediatamente pudemos notar uma enorme melhora na auto-estima e o maior interesse de todos da nossa equipe em aperfeiçoar a qualidade de atendimento às crianças cardiopatas.

No momento, com a ajuda da CHL, estamos iniciando participação em um grupo de estudos International Quality Improvement Collaborative for Congenital Heart Surgery, liderado pela Dra. Kathy Jenkins, do Boston Children's Hospital. O intuito é identificar os fatores de riscos para morbidade e mortalidade, introduzir parâmetros internacionais e comparar nossos resultados com os de outros centros do mundo.

Também iniciamos os preparativos para receber uma nova equipe no mês de junho, com atenção voltada para os tratamentos globais no período neonatal.

Por fim, acreditamos que essa experiência de parceria com a CHL resultará em maior capacitação dos profissionais da nossa equipe, funcionando como um fator multiplicativo para a melhoria no atendimento às crianças com cardiopatia congênita no Brasil.


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